sexta-feira, 9 de julho de 2010

Glory and Consequences


Ora, era uma senhora alta, visivelmente pesada e vestia uma batina às bolinhas azuis e brancas, daquelas batinas que conseguem fazer a ponte entre o roupão e o avental de cozinha. Os óculos fundo de garrafa escondiam a mensagem que os olhos já cansados queriam transmitir. Não estava só, vinha acompanhada de uma muleta na mão esquerda e de uma ligadura no respectivo pé.

Feita polícia sinaleira ordenou, mais do que pediu, que parasse o carro em que seguia em pleno Cais de Sodré com a destreza de quem já o tinha feito mais vezes.

Desperdiçou sem hesitar a oportunidade de se apresentar, optando antes pelo que me pareceu ter sido o relatório médico dos últimos anos descrito em 10 segundos. Em suma queria boleia para Cascais. Percebi que já era tarde e que tinha perdido o comboio.

Vamos só... passando a parte difícil de conseguir encaixar uma senhora tão grande num carro tão pequeno, o resto não passaria de um favor a quem precisa...

Ainda não tinham passado 2 minutos e queixava-se novamente porque ainda não tinha comido e pedia que a levasse a qualquer lado para comer.

Pensando no assunto, disse-lhe que eram 23:45 e já não havia quase nada aberto... Disparou de forma demasiado rápida rápida que o McDonalds de Carcavelos ficava a caminho e provavelmente estaria aberto.

Desconfiei da rapidez de resposta.

A verdade é que não tinha argumentos para a contradizer, porque de facto não me lembrava de mais nada aberto àquela hora.

Tudo bem, vamos.

Fazia perguntas, muitas. Demasiadas e demasiado frequentes.

Que é isto? E aquilo? O que é que fazem ali? Onde trabalha? Onde vive? E a namorada? Que idade tem a namorada? Como se chama? No que é que ela trabalha? Já foi aqui? Já foi ali? Onde é que há festas aqui perto? O que é aquilo? Já foi aqui? Conhece isto? Já aqui esteve?

Depois de já polida a paciência, chegamos finalmente ao Mc. Não vos sei precisar quantos carros ao certo estavam na fila, mas fiquei com a nítida sensação de que existem algumas dezenas de pessoas a mais com fome àquela hora.


Tinha de parar a chuva de perguntas, então resolvi colocar a Sra.D. Lúcia no centro da conversa.

Errado!!!

Relatórios médicos novamente. Artrose, infecção repiratória, um peito tirado enquanto o marido a traía com uma amante, queimada por distracção enquanto fazia vapores pela infecção respiratória, bronquite e mais umas quantas coisas que os médicos alegadamente não sabiam o que era mas que estava lá. Garantia da Sra. D.Lúcia!

"Faça aqui o seu pedido" - Salvo pelo gongo! Ou pela voz informatizada do Drive In.

- "O que é que vai ser Lúcia?"

- "O que você quiser"

Pensar a esta hora....

- "Menu Big Mac por favor"

- "Bebida?"

- "Lúcia?"

- "Cocacola."

- "Cocacola"

- "Senhor Ivo?"

- (suspiro) "Diga Lúcia"

- "Posso pedir um gelado?"

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- "Não D.Lúcia não pode... uma coisa é levá-la a casa desde o Cais de Sodré quando tinha um comboio mais tarde, mas não lhe dava jeito esperar. Uma coisa é alimentá-la porque está com fome, outra coisa completamente diferente é comprar-lhe um gelado que não lhe vai fazer nada bem....

Dinner Packed, lá fomos nós pela estrada fora numa corrida de perguntas e respostas... uma espécie de gato e rato vocabular mas com muitas perguntas repetidas.

Vira aqui, rotunda em frente, cruzamento à esquerda, rotunda em frente, direita ao pé do Jumbo... pode parar aqui.

Ora eu que pensava ter sido difícil encaixar a Lúcia no banco de trás do meu pequeno carro..... ingénuo de mim que não pensei no processo inverso.

- "Sr Ivo posso-lhe dar um beijinho?"

- "Claro que sim!"

- "Sr Ivo, posso ficar com o seu número?"

(Torci o nariz)

- "E para que é que a Sra Lúcia iria querer o meu número?"

- "Para quando precisar de boleia..."

.. .. ..

3 comentários:

Helga disse...

ahaha não posso!!!

Ivo Belfo disse...

Podes podes... depois ainda fiquei com peso na consciência porque tive falta de vontade em ter o número da senhora... = \

purple disse...

Verdadeiramente assertiva!!