Tentei fechar a porta em silêncio.
Ouço um clique antes de tempo e reparo que o teu vizinho da frente se esforçava pelo mesmo. Uma situação curiosa dado ao espaço reduzido entre as duas portas...
Seguem-se os bons dias e a cedência de passagem à escada que leva à porta de entrada encravada, que não fecha, e que sei que ao escrever dela aqui saberás que este texto fala de ti.
Ainda não pus o pé na rua mas sinto-me como se nunca me devesse ter afastado do teu abraço.
Deixei no primeiro andar o escuro do teu quarto, o cheiro a cera da sala e o aquecedor ligado que ainda não entendi bem como funciona... Também não sei ainda se trouxe vestida a minha ou a tua pele.
Tem o teu cheiro, o teu toque e definitivamente a vontade de estar grudado em ti... é possível que me tenha enganado...
Depois devolvo.
Rumo ao cais e peço um café com canela... algo que me acorde e purifique. Um beliscão amargo para me acordar as ideias e me trazer a alma de volta dos teus cobertores.
Oh alma minha, que vens retraçada e fria....
Tanta confusão, tanto desejo domado, tamanho querer restringido, tantos "Sim" mascarados em fogosos e sedentos "Não"... tantas amarras que te prendem ao mundo e à mortificação da tua vontade... quando tudo em ti quer ser livre para sangrar sentimentos e rasgar verdades...
Se ao menos te conseguisse ensinar que tudo na vida vem de mão dada... se te conseguisse explicar ao alcance de uma noite a essência da existência feliz e inconsequente...
Se te conseguisse explicar por palavras que a vida quer ser vivida. Que evitar viver é um eufemismo fatal, e que "cadáveres adiados que procriam" andamos até que nos apercebamos disso...
Se o menos conseguisse explicar-te por palavras de Eckhart que nada neste mundo é certo, por ensinamentos de Platão que o sofrimento compensa a busca e por Gibran que nada é nosso que não seja ilusão...
E por palavras minhas que tudo o que temos é isto...
Um caminho recto por florir.
Um caminho recto por florir.
Sem comentários:
Enviar um comentário