Era pequena, idosa, corcunda e vinha armada com compras em sacos de pingo doce.
Eu tinha acabado de chegar do trabalho, o que significava que passava pouco das 22:30, e a figura chamou-me a atenção pela forma como caminhava/cambaleava com dificuldade apoiada nas suas pernas finas e arqueadas.
Agarrei na mochila e pus-me a caminho mas do outro lado da estrada decidi olhar de novo.
A senhora parara em frente à cabina telefónica e debatia-se com os bolsos da sua batina preta para que lhe devolvessem uma ou duas moedas que jurava ter lá deixado.
Esticou-se para lá do que eu julgava ser possível e lá conseguiu colocar a moeda na ranhura.
Tlig tlig... não foi aceite.
Esticou-se novamente e com esforço fez a sua segunda tentativa...
Tling...
Chegou. Não consegui olhar mais e voltei para trás para ajudar.
A Cabina estava desligada mas os olhos da pobre Senhora não o podiam ter adivinhado pois estavam ao nível do cabo pendente do telefone.
Pobre senhora não apenas porque estava com dificuldade ou por ser pequena e marreca, mas também porque estava a tentar fazer com que a cabine funcionasse com uma moeda de 10 cêntimos quando sabia que só aceitava 50 cêntimos no mínimo.
- "Tentar Não custa" - disse com um sorriso envergonhado
Tirei o telemóvel, marquei o número e criei aí a oportunidade que precisava para pedir à neta que se metesse a caminho pois ia apanhar o autocarro das 22:45.
Telemóvel desligado... Humpf
Despede-se agradecida.
Despeço-me frustrado mas com a plena noção que o sorriso que me mostra não saía cá para fora há algum tempo...
"Tentar não custa..." ( Suspiro)
1 comentário:
melhor do que dar dinheiro as instituições de caridade... bonito o teu gesto.
um abraço
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